E nem dói tanto quanto acordar e não ter você aqui
E as paredes desse quarto são tão pálidas
E esses travesseiros ainda têm o cheiro seu
E nada dói tanto quanto acordar e não ter você aqui
Essa noite foi tão bom eu te sonhei
E a dor se espalha conforme o sol inunda a janela
E eu lembro foi você que a quis assim, acordando a casa em luz
Sozinha, sem seus passos na cozinha
E um anjo entristecido me olha da parede
E o café amargo, não tem na geladeira nada
E é bom pois o nada é o que eu sou
E os minutos do relógio enlouquecido nem sei como vão
E não tem sentido esse pão macio no forno
Sozinha, a mesa não me despertará
E sei que a fome de mais um dia já não vem
E em seu quarto o vazio das coisas
E o vazio do que não se via por ali estarem
E agora faz tanta falta você ocupando o guarda-roupa
E despedindo-se numa noite iluminada
E assim se foi e não prometeu que voltaria,
Sozinha com o escuro da ausência fiquei
E um anjo entristecido me olha da parede
E eu esperei ... te esperei, eu sempre esperei
E assim sozinha a noite eu acordei e não mais adormeci
E sei que não voltarei a ouvir os seus passos na cozinha
E não adianta o telefone ser tão colorido e vivo
E me lembrar o seu silêncio ele é o símbolo do não
E as vozes dos amigas me ferem, pois não são você
Sozinha, estou tão sozinha
E sem teus passos no corredor eu passo
E frente ao espelho olhos sombrios
E é fevereiro, quase onze da manhã
Meus cabelos estão tão tristes
E não adianta fazer manha por que não terei os seus carinhos
E o mar é sempre cinza sem o azul dos seus olhos
Eu fico a cada dia mais sem cores só em sombras
Não tem creme de barbear nem sua face em minhas mãos
Não, não tem,
Mas tem a navalha...
E eu fiz a sua barba doce-áspera foi tão bom
E ela já não tinha tanto corte e está no armário lá do fundo
Eu vi quando procurei os postais de Buenos Aires
E sem ar eu ando e meus passos juntos com os seus
E nós dois riamos até do vento
E naquele vestido vermelho eu fiquei tão menina
E não tenho mais o som das suas passadas largas
Ainda pareço uma gueixa, mas você se foi
A lamina ainda corta
A minha pele é tão pálida
Ah, não sabia, mas vermelho junto a mim fica tão bonito
E nem dói tanto como acordar sem você...
E se não manchar o piso rubro esse antigo lar vai renascer um dia
E se você vender alguém ainda poderá ser feliz
E agora sei por que você partiu todo esse sangue me dizendo
E só por que eu amei você muito mais que a mim
E amei a mulher que era quando tive seus olhos fixos em mim
E nem dói tanto quanto acordar e não ter você aqui.
E finalmente vou dormir num mar vermelho como o vestido que você me deu...
Tânia Souza
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