era noite de espiar
horas, céu e chão
algum cachorro perdido,
passarinho madruguento
- sono não
do mato ao alto, conversa
de estrelas e vagalumes
eu garimpava no olho
paisagem que dissolvesse solidão
ou tessitura de
frescor
foi quando a onça chegou
- chegou antes, o vento
cheiro de chuva que não
vinha
dançaram folhas no
quintal
depois, um silêncio de
ante-medo
e coisas sagradas
caminhando
nos olhos da onça
um alinhavo sinuoso de
luz, noite e eu
eram leves e pesados os
passos da pintada
suavidade feroz na benção
da lua
a onça espiou a menina
que espiava
andou pelo terreiro
farejou a vida
era de uma tristeza
bonita, bonita
dorso longo deslizando
pelo quintal
coração bateu mais alto
que o respirar
parecer de sonho,
realidade inventada
febre de dor encantada
era a onça de dentro
farejando, avisando
qualquer coisa de sagrada
sendo
e então, ela se fez de
lua, fugidia
e se foi
foi acolhendo a noite e a
imensidão
as patas no quintal
tatuariam lendas
eu ainda não sabia
quem vê onça, vê o entre
entende olhar de deus
Tânia Souza