Alma de cometa


ALMA DE COMETA

Tânia Souza

Halei Deivison da Silva tinha 17 anos, um nariz quebrado e muitas cicatrizes. Coisa de moleque criado na rua. Não tinha carteira e a primeira moto que comprou era bob. Nem ligava, subia na máquina e dizia, minha luz, ninguém há de apagar.  

A vó dizia que o nome veio da passagem do cometa, a mãe se enamorou de um visitante desconhecido e o menino se fez. Vai se chamar Halei da Silva, como pediu o pai, disse num último suspiro, a mãe ainda tão moça. E Deivison pra não ser nome só.

O sangue se atraia pra malandro, confusão e moça bonita, Halei Deivison da Silva batia no peito e dizia:

aqui não violão,

não se meta a besta,

nem vem com treta,

eu tenho é nome de cometa

Atravessava a cidade e nos altos da Afonso Pena, andava de suspirança espiando estrelas. Disso não falava, mas esperava que um dia, o tal cometa voltasse.

Quando conheceu Julinha, se enamorou de tanto que nem mais nas madrugadas quis correr. Esqueceu estrela, esqueceu cometa. Esqueceu da maldade que anda pelo mundo. Mas no bairro, mão da moça já tinha promessa. Deu no que deu, o quase noivo foi quem não gostou, certa feita pegou o moleque de jeito, e nunca mais ninguém viu, nem se falou.

Os dias comeram os sonhos, os bairros se estenderam sem preguiça em torno da cidade morena. Mas quando é madrugada e o asfalto que cobre os córregos brilha, ouve-se de longe o ronco do motor. E feito língua de fogo, corre pela noite uma trilha de luz. Dona Julia suspira e diz, é Halei Deivison, tinha mesmo alma de cometa, tinha sim. 

Era de destino de Halei, brilhar.

 


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