O breu ferindo o arrebol


O breu ferindo o arrebol










O breu ferindo o arrebol 

Eu vejo nuvens
Nuvens febris
Pontilhados cinzas
Incendiados rubis

Eu vejo nuvens
Nuvens de fumaça
No azul que se de(s)ata

E por todos os recantos
Em cada face, um pranto
Por caminho, desencanto

Eu vejo nuvens
Nuvens frias
Traços em melancolia

Olhares amargurados
Solidão em nua rua
Horizontes dilacerados

Eu vejo o tempo 
Percorrendo os dias 
Dilacerando o verde 
Roubando a lua 
Vencendo o sol 
E nas sombras sob meus olhos 
Eu vejo o breu ferindo o arrebol 

E são longos os gemidos das águas 
Desertificando a terra deslocada 

E não mais vejo as nuvens 
Nuvens ensanguentadas 
Vejo o sangue dos olhos no espelho 
E nas minhas mãos 
E nas tuas mãos 
E nas mãos sedentas 
Que erguem-se 
Pedem e lamentam 
Perdida batalha 
Aos pés da triste Gaia 

Eu vejo resquícios 
Resquícios de searas culpadas

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