E eles vieram com o amanhecer - Tânia Souza


E eles vieram com o amanhecer

Tânia Souza

 

Em memória de Henry Evaristo

 

O passado está cheio de fantasmas e monstros reais. Desde a pré-história o homem vive cercado por um mundo que esporadicamente lhe propicia vislumbres de uma natureza que não é a sua e, para além disso, de uma realidade que é muito diversa da que lhe é familiar . (Henry Evaristo – A invasão de Santarez)

 

           Comarca de Bela Vista, 29 de Setembro de 1872

 

Ao muy ilustre amigo Taunay,

 

Estimo que estejas bem. Eis que, enfim, tenho a coragem para lhe enviar estas escritas quase arquivadas pelo tempo. Jamais os homens que compartilham a morte e a vida devem ser esquecidos por seus iguais. Além dos anos de treinamento militar, o amor pelo escrever e os desgostos da guerra nos uniram. No entanto, a angústia e o pesar nos afastaram. Nos últimos dias da batalha, enquanto seguiam até Laguna, como bem sabe, tomei outros caminhos; caminhos que nem com a guerra, poderia ter previsto. Mesmo temendo seu julgamento, preciso compartilhar o que tenho visto e vivido nestas terras. Mesmo sabendo que me julgarás insano.  Ah, a guerra. Os heróis. As vítimas. Os vitoriosos.

E os desertores...

Por seis longos anos, a morte e a carnificina espreitaram as terras devastadas. E estávamos lá. Conhece minhas motivações. Em busca de aventura e tomado de admiração pela vida na caserna, ingressei nas forças armadas e fiz-me tenente de artilharia, mas, no frenesi da primeira batalha, descobri que não fui talhado para a luta. Deus, misericordioso, bem sabe que mil vezes eu morreria em vez de empunhar a arma, no entanto a sorte, ou o mais nefando azar, estiveram sempre comigo, preservando uma vida que já não merecia ver o sol nascer e se pôr.  Uma vida que ainda hoje, espreita o horror lá fora e teme o amanhecer.

As lembranças, ah, elas voltam e o remorso me atinge constantemente. Preciso parar... preciso de ar. Parece-me que ouço o ribombar dos canhões. A fumaça...

(...)

Creio que o remorso começou a torturar-me constantemente desde quando, pela primeira vez, repousei o corpo de um companheiro morto nas águas transparentes de uma nascente. Deve lembrar-se de quando deitávamos no leito do rio cadáveres dos que pereciam tomados pela peste e assim, a doença chegaria até as populações ribeirinhas. Meu Deus, e eu, que no passado pensara em tornar-me médico para salvar vidas, via-me, constantemente, buscando formas de tomá-las. Meu bom amigo Antônio, consumido pela febre e varíola, o corpo inchado e tomado por pústulas... ah, sua alma merecia um enterro cristão e, no entanto, dei-lhe as águas como última morada e a imagem do corpo sendo levado pelo rio atormentou-me e desde então, meus sonhos foram invadidos por seus olhos negros e tristes, enquanto apontava-me a direção da correnteza. Ainda assim, convivi em certo equilíbrio com o remorso; eu me tornara, a despeito de uma vocação vazia, um homem de armas. Os mortos prosseguiam e a podridão das águas turvas tornara-se comum. Por todos os lados boiavam brasileiros, argentinos, paraguaios... Mesmo mortos, também lutavam enquanto a decomposição que explodia sob o calor do sol se espalhava.

Mas nada, nada me prepararia para a batalha de Acosta Ñu.

Os gritos. As súplicas. E as espadas... Acosta Ñu não deveria ter acontecido, caro amigo, e jamais seremos perdoados por isso. O Conde D’Eu parecia tomado por uma febre terçã... e a piedade que talvez um dia tenha habitado seu coração fora embora com a guerra. Bem sei, havia canhões, alguns soldados da infantaria... mas as crianças... não as crianças.

Ainda ontem, despertei de um pesadelo sombrio, mas acordar não significa estar livre. Sob as sombras da noite, aqueles olhos vagam em meu quarto e mesmo acordado, ainda posso ouvir os lamentos e o som dos sabres caiando sobre pescoços infantes.

Mas, há mais, muito mais. Foi em Acosta Ñu que Os senti pela vez primeira. Enquanto guerreávamos, o cheiro da morte e dor empesteara os ares como nunca dantes aquelas terras viram.  A fome de sangue, a dor dos que matavam e morriam sem saber o porquê. Ali, no fervor pútrido da batalha, o ar espalhando o odor da carne queimada das mães e dos sobreviventes, ali em meio ao vapor e as dores da luta, conheci o inferno. O reino do maligno estava entre nós.

E um mal mais antigo que o homem, deleitando-se com o sangue dos inocentes, renascia.

(...)

 

Acosta Ñu. Todas aquelas crianças, Taunay, como tivemos coragem? Ainda me lembro de um pequenino, implorando piedade, agarrado as pernas do comandante.  Alguns segurando as barras de madeira como se fossem armas. Brincando de guerra, os rostos miúdos pintados a carvão. O grito dos que pereciam consumidos pelas chamas e as espadas certeiras sobre pescoços dos meninos encolhidos em seus próprios braços. E então, estava acabado. Nem feridos, nem sobreviventes, todos deveriam ser mortos e os que a espada e as chamas não devoraram, a fome, a dor e a privação o fariam. Jamais a guerra deixou minh’alma. E finalmente, saberá o que me levou para outros caminhos, distante de Laguna.

Quando o alto comando partiu, eu fiquei nas cercanias de Acosta Ñu. Vi quando o silêncio chegou, espantando o cheiro de morte putrefação. A dor foi então tão opressiva que muitos homens choraram; os guaicurus, estes valentes que ali estiveram conosco entoaram cantos sagrados, enquanto outros soldados simplesmente fugiram, perdidos pela mata.  Não, não há gloria na dor.

Perseguidos por aquele silêncio implacável que impedia as brisas e calava os pássaros, voltamos para Bela Vista. Conosco, iam alguns feridos e a travessia seria penosa. O pequeno destacamento estremecia de pavor nas noites escuras, mas era durante o dia que o mal se deleitava. A luz feria nossos olhos e ocasionalmente o delírio tomava forma. A febre e o calor da batalha deixaram-me enfermiço, e muitas vezes, parecia-me que criaturas transparentes como o dia seguiam nossos passos a beira do rio. A água escasseava e todas as nascentes eram suspeitas. Como deve imaginar, a razão aos poucos nos abandonava. A mata parecia espiar-nos e o temor da ira de Deus me torturava.

Foi quando os mortos começaram a despertar.  

(...)

 

Deve estar espantando com o que leu até aqui, mesmo eu, que escrevo a intervalos regulares, espanto-me com minhas palavras. Sim, é verdade que os mortos caminharam. E a calma com que escrevo é o fruto de uma alma perturbada demais para expor a febre que a consumiu e porque não há palavras que descrevam o horror que presenciamos. Havia o calor sufocante. Os insetos nos devoravam e a fumaça que deixávamos para trás insistia em nos seguir.  Transpirávamos e o cheiro da podridão era nossa companhia constante nos dias quentes e nas noites úmidas.

Quando aconteceu pela primeira vez, os nervos doentios e irritadiços já me dominavam. Foi à beira de um riacho alimentado pela chuva, em meio a vários corpos que ladeavam a margem, que ela se levantou. Primeiro, foi o silêncio, os raros pássaros desapareceram e mesmo o vento, calou-se. Apenas um longo e absurdo silêncio.

Das águas escuras e cobertas por moscas a criança ergueu-se, espantando os insetos que há pouco devoravam sua carne. Os cabelos e o corpo estavam cobertos por sangue e barro endurecido, os olhos grandes e vazios destacavam-se em meio à sujeira. Quase como que flutuando, ela se foi. Alguns dos nossos fugiram nesse dia, embrenharam-se nas matas e somente seus gritos de pavor vinham a nós, como se atacados por algo horrível demais para nossa imaginação conceber. Agarrei-me a Deus e atirei nela, mas logo percebi ser inútil. O corpo frágil agitou-se com as balas, mas não se deteve. E em meio ao pavor, aos gritos e a confusão dos cavalos e mulas de carga que se dispersavam, lembrei-me dos olhos tristes de António, apontando-me as águas.

E de algum modo, eu soube de nossa culpa.

Confesso, neste momento, apenas a lembrança daquele pavor me envolve e desejo parar de escrever, sair, esquecer.

(...)

 

Novamente, lhe escrevo. Como lhe disse, desejo fugir, mas isso já não me é permitido. Firmo o ouvido. Sim, posso ouvir os pássaros. Estão por toda parte, não apenas nas árvores, mas também nas gaiolas onde os guardo. A minha sentinela. Com o coração mais calmo, prossigo.

Eles vieram com a força das águas, despertos pelo sabor do sangue derramado. A criança foi a primeira, como se os demônios soubessem e gargalhassem do pavor e do remorso que me atingia. Mas depois, outros seguiam com ela. Corpos quase destruídos erguiam-se e seguiam para a mata. Já não dormíamos e a certeza de que em breve voltariam para nos matar nos guiava. O maligno enfim estaria reinando na terra? Estávamos todos mortos e ali, o inferno de nossa eternidade.

Mas a verdade é que os mortos estavam sendo despertados e rastejavam movidos por uma força desconhecida. Mas por que e por quem, isso ainda não sabíamos. Para tentar manter nossa afectada sanidade, nos convencíamos de que fora um embuste de sobreviventes em busca de proteção na mata. A viagem tornara-se cada vez mais penosa, havia fome e feridos entre nós, além do horror indizível do que presenciávamos.

            Até que um terror maior sobreveio.

 (...)

Talvez agora possa entender, meu valoroso amigo, as razões deste que vos fala. Algumas ações são tão hediondas que o homem comum não poderia jamais presenciar. Tampouco realizar sem mutilar-se eternamente. E se sobrevivo até aqui, foi para expiar nossos atos mais pecaminosos. Nossos crimes da guerra.

Numa manhã ensolarada, cavalgávamos quando, de repente, os animais pararam. O silêncio tornou-se quase concreto e a angústia feria-nos.

E então, eles vieram.

Senti, em meio ao mormaço sufocante, a força do ar movendo-se junto a mim, e ao meu lado, um soldado gritou. A garganta dilacerada pode dentes invisíveis, deixou a mostra, por instantes, os órgãos internos, e o sangue espalhou-se no ar antes que toda carne e ossos de que era feito desaparecerem, mastigadas furiosamente em poucos segundos.

Demônios. Demônios sem forma, demônios invisíveis, demônios devoradores de homens e de almas; o inferno finalmente viera se estabelecer na terra. Preparei-me para rezar quando um som melancólico de um chifre de boi sendo soprado invadiu a planície e um índio guaicuru, montando na lateral do seu cavalo como tão bem faziam nos ataques, arrancou-me do estupor. Sua lança feriu a coisa disforme que já devorava meu cavalo. Cai no chão úmido e ele jogou um poncho sobre mim.

Três de nós já haviam perecido quando o guaicuru gritou que nos cobríssemos até que eles se fossem. Eu reconheci o guerreiro e tomado pelo pavor, obedeci. Tolo, sentia-me como as crianças que há poucos dias, encolhidas nos próprios braços, aguardavam a morte, mas, mais uma vez, ela não veio a mim. Ali, no escuro protetor do tecido úmido e malcheiroso, ouvi o grito dos que fugiam desesperados. Enrolado na escuridão morna, sentindo meu corpo desidratar-se de calor e medo, devo ter perdido os sentidos. Despertei com os empurrões do índio.

A noite viera e com ela, uma trégua. O que quer que nos perseguira naqueles dias não esperaria mais. A guerra não havia terminado.

O valente guaicuru partiu ainda naquela noite. Antes de ir, chamou a mim e a mais alguns dos companheiros que sobreviveram e disse-nos que temêssemos sempre o silêncio. E os dias. Que a noite, enquanto houvesse sombra, eles não viriam. E que buscássemos na escuridão, a proteção;

Quis saber quem eram, mas nunca compreendi exatamente o que me disse o jovem. Todavia, entendi que, quando o sangue dos inocentes desceu pelas planícies do cerrado, embriagou as nascentes e cobriu de vergonha os morros e cerros, desceu também até as profundas cavernas e despertou os “nandí-vevê-co’ê,” ou "o vazio que pode voar ao amanhecer”. Estas criaturas tão antigas eram velhas conhecidas dos índios que, mesmo em tempos de paz, evitavam as cavernas sagradas para não despertá-las, buscavam em símbolos herméticos, afastar o mal. Um horror sem nome que os anos adormeceram, no entanto, as correntezas levaram, por rios subterrâneos e caminhos ocultos, o cheiro da morte até eles e por isso, voltaram. De alguma forma, ele pensava em reunir os sábios das tribos para detê-las. O som do chifre de ossos poderia ser um caminho, assim como a bênção da escuridão e as complicadas geometrias de sua tribo.

Fiz do poncho a minha arma e proteção. Pensava talvez que fosse uma ilusão, ainda assim, agarrava-me a escuridão protetora. Naquela última viagem, perdemos mais companheiros a cada ataque e, quando a noite chegava, mais um desertava até que, por fim, apenas eu e quatro feridos chegamos ao forte de Bela Vista. Parece que vagamos por muito tempo. Solano Lopez já havia perecido, mas eu sabia que a guerra não havia acabado. Chamaram-nos de loucos. Doentes da guerra. Desertores. E por algum tempo, temi que estivessem com a razão, desejei que estivessem com a razão.

Ah, a guerra! E o poder do seu chamado.

Para os amigos e parentes eu estava perdido pelos horrores da Guerra da Tríplice Aliança. E eles tinham razão, caro Taunay, o que me restou da sanidade, estraçalhou-se com os fatos que sobrevieram-me. Escrevo-lhe, pois sei que o ilustre amigo, sabedor dos horrores que vivemos, poderá compreender minha dor. Quando enfim o conflito foi dado como encerrado, não pude partir.

Acosta Ñu...

O silêncio que precede os “nandí-vevê-co’ê”...

As crianças...

Não, era meu dever ficar. Em um pequeno rancho nas cercanias de Bela Vista, estabeleci moradia e dediquei-me então, a um projeto particular. Bem próximo de minhas terras, uma lagoa azul, onde desembocam minúsculas cachoeiras de rara e azul beleza. Para acalmar os meus, disse que me recolhia para escrever as memórias da guerra.

            Pensaram então que eu estava em paz, mas a inquietude tem sido minha companheira constante. Agora mesmo, enquanto escrevo, de vez em quando estremeço e suspeito de que há algo lá fora, rondando, espiando, destruindo-me. Não é a noite que eu temo. É o dia que me apavora, o sol, o calor das manhãs iluminadas me enche de pavor.  Por que sei o que a luz pode trazer.

(...)

 

Os guaicurus vieram ter comigo. Eu caminhava pelos campos, colhendo guavira sempre acompanhado pelo poncho quando ouvi o tropel dos guerreiros montados. Mesmo após tantos anos, me impressiona o porte orgulhoso e a forma como montam de lado, empunhando as lanças pontiagudas e letais. Estremeci ao vê-los, enquanto que na guerra, tê-los ao nosso lado salvou-nos muitas vezes a vida, seus mistérios seguem sendo uma barreira. Eles sabem o que vi e o que desejo. São os guardiões e devem selar os portões.

Mas enquanto os que voam ao amanhecer temerem o escuro, haverá alguma segurança. Há algo que você não sabe, caro amigo. Não apenas por remorso que escolhi estas terras perdidas. As cavernas estão por perto, junto às nascentes cristalinas, sei por onde eles passam. Ousei, acompanhado pelos valentes guaicurus, nas noites enluaradas, espiar as águas e córregos. A boca horrenda de uma delas, quase oculta pela mata, moveu-se sob o luar e eu pude enfim vê-los.

Não é apenas o nome deles que me é difícil pronunciar. Também a aparência que o luar revelou. As asas parecem dilaceradas e pontas agudas saem das unhas e das membranas que as unem. A pele enrugada que os cobrem é translúcida, e todos eles parecem dotados de garras mortais. Mas são os dentes o horror mais indescritível e letal. Não vi olhos, apenas o vazio e as fileiras de dentes circulares na face disforme. O silêncio que os precede é como um véu de névoas encobrindo meus sentidos e a despeito dos dias claros, o escuro da minha alma ameaça vencer-me. Nem sempre sei se as sombras que me envolvem vêm lá de fora ou saem de minha alma impura, corroída pela dor e pelo remorso.

Eles se alimentam de carne, putrefata ou viva.  Entendi enfim os mortos que caminhavam, serviram de alimento enquanto recuperavam as forças. E fomentavam nosso pavor. Eram guiados por eles na segurança que a luz do sol lhes trazia. E também do medo, do pavor e do remorso se alimentam. A cada dia, estão mais fortes e somos todos culpados. Por isso, precisam ser detidos, pois sua força aumenta, não sei se de origem sobrenatural ou de alguma raça quase extinta, eles espreitaram durante séculos e mais uma vez, andam entre nós. Sei que aos poucos, deixarão de temer a noite e então, nada mais poderá detê-los. Sei porque uma noite dessas, eles vieram. Sob um céu salpicado de estrelas, eu repousava na rede, espantando alguns mosquitos, quando o silêncio me assombrou de súbito. Nem mesmo a brisa ou o menor dos insetos ousa interrompê-los. Ainda não ousaram se aproximar, mas o dia está perto. Um arrepio de puro horror me assaltou, não havia nada lá fora além de um silêncio profundo.

           (...)

 

Finalmente, o fizemos.

Explodimos a entrada das cavernas. Os guerreiros montados já não trazem a sabedoria dos mais antigos, mas alguns rituais e armas que guardo da batalha poderiam feri-los, assustá-los talvez a ponto de recuarem para as profundezas... mas selar as cavernas e afastar os tolos que ousarem se aproximar pode ser um caminho.

Por algum tempo, estamos em paz. Creio firmemente que somente o silêncio das armas e o fim das guerras poderiam detê-los. Enquanto houver um campo de batalha e mortos, enquanto o sangue dos inocentes correr pelas planícies, o vazio que voa ao amanhecer encontrará uma forma de voltar.

Não espero que acredite, mas aguardo o poder da dúvida. E que estas palavras sirvam de alerta e testemunho, caso eles voltem.

Aos poucos, eu durmo e uma rotina suave me convida a reescrever meus caminhos. As crianças ainda habitam meus sonhos e lamentam ao meu redor em noites quentes e abafadas. E do horror no coração dos homens não esquecerei. Tampouco, dos seres que as sombras guardam, pois sei que, em algum lugar sob meus pés, eles dormem.

E um dia, podem despertar.

(...)

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