perdoa

Por Tânia Souza

 

perdoa quanto te olho não te vejo
eu só(u) anseio silêncio e solidão

há intensidades por demais
eu preciso um pouco de nada
que não seja a vida invadindo

perdoa, que sou sempre a
moça que ama outono
e quando pode, persegue poesias

viver é bonito, pero dói
perdoa as palavras ditas,
e mais ainda as que eu não disse

eu sou de silêncio mais que fala
mas meus afetos são tão amplos
e afoitos em ser

perdoa o café que não fui
o baile que não dancei
aquela conversa que só calei

perdoa também o livro que não escrevi
perdoa o bolo que eu te dei
e o bolo que eu não fiz

perdoa as lágrimas que ainda há pouco eram sorrisos
e as cascas de cebola caramujo onde me escondo
há tristezas tecidas por demais e muitas vezes, é difícil ser

perdoa essas vontades de pé descalço e terra chã,
há cinza e concreto por demais
eu só preciso respirar

perdoa das divagações,
por te perguntar e em seguida esquecer
meu olhar se perde, mas não é desatenção nem escasso amor
é que eu sou assim de dispersão e distração

perdoa por te conversar com neologismos
é que isso sou tão eu
e meu brinquedo-palavra favorito

perdoa-me, que eu também preciso perdoar-me

(e se der, pode um tantinho me amar?)


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